quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Continuar mudando, continuar acreditando...


Em 2004 escrevi um texto: A história de como dormi petista e acordei sem partido. Continuo sem partido oficial. Foram momentos internos de luta contra grupos que se instalaram dentro do PT e que proporcionaram escândalos e que negaram a história de luta de um partido popular. Por mais que tenha sido enfático nas críticas reconheço que estava errado. O PT não pode se resumir a determinadas figuras. O PT é maior que tudo isso. Tomei a decisão de retornar ao PT, pois até hoje não se apresentou um projeto político mais coerente do que este. A esquerda brasileira não tem a capacidade de se organizar em torno de um projeto unificado, acabam morrendo, haja vista os vários candidatos a presidência da esquerda, tais como: PSTU, PCO, PCB e PSOL. O PT, pelo contrário, percebeu que para governar e propor mudanças era preciso fazer alianças, mas quem determina as regras é o partido e a equipe de governo. Foi assim com Lula, será assim com Dilma.

Por isso, não poderia como militante e intelectual me negligenciar neste momento histórico da política brasileira onde, depois de um retirante e operário como Presidente, tem a oportunidade de eleger a primeira mulher Presidente do Brasil. Não há como negar os dois mandatos do governo Lula. Aliás, nem mesmo a oposição tem essa coragem. Não possuem coragem e nem fundamentação para contestar e comparar os anos de governo FHC e os anos do governo Lula. Aliás, uma oposição que a todo instante entra em contradições, que não tem programa de governo, que não tem projeto popular. Mas como posso querer que a oposição tenha projeto popular sendo que são eles os representantes da velha oligarquia rural e aristocracia urbana? “Sem chance” como diz sempre um velho amigo.

Como não sou positivista e, muito menos, weberiano como o sociólogo Fernando Henrique Cardoso e porque acredito que é possível fazer ciência com a prática, com o engajamento político e com uma visão de mundo comprometida com as causas populares, é que venho por meio destas pequenas e singelas palavras assumir minha opção por Dilma. Opção que acredita na força coletiva do voto popular. Por mais que tenhamos “Tiriricas” e “Malufs em São Paulo e em vários estados da federação, a população brasileira nos dá uma lição de consciência em não mais aceitar determinados candidatos que utilizam o cargo público para interesses particulares. Não podemos acreditar no velho discurso: “Eu voto na pessoa, não voto no partido”. Esse discurso tem contradições profundas e ideológicas que podemos desocultar. Toda pessoa representa uma ideologia, mesmo que ela diga que não tenha, a própria negação é um ato político e ideológico. As pessoas estão associadas ao partido que representa uma ideologia, que possui uma visão conjuntural de Estado e de mundo. Votar na pessoa significa votar no individuo que não presta conta de seus atos aos seus pares, votar na pessoa que tem um partido significa votar no coletivo que cobra esse representante a todo instante e o mesmo presta conta de seus atos. Não existe nada mais conservador do que este pensamento e precisamos mudar isso por meio de uma educação política. Mas, gostaria de apresentar os motivos que me levam a acreditar em Dilma, a saber:

Primeiro, Dilma significa a continuidade de um projeto político popular. Ela não é um factóide de Lula como destacam os sem destaque do PSDB e DEM. Pelo contrário, Dilma representa a imagem de um projeto político de poder que é necessário enquanto transição para termos uma sociedade possível, mais justa e igualitária.

Segundo, os outros candidatos não disseram por que estão pleiteando a Presidência da República. Caíram no factóide da denúncia sem provas e porque não dizer que armaram essas denúncias? A esquerda ortodoxa ainda não percebeu que para conseguirmos alcançar uma sociedade comunal precisamos da transição ao socialismo e a passagem do capitalismo selvagem do neoliberalismo para o socialismo também é necessário de uma transição. Transição que estamos começando a verificar no governo Lula, ou seja, “pela primeira vez na história desse país” estamos assistindo no plano real o que realmente é um “Estado de Bem-Estar Social”. Entre voltar ao neoliberalismo com a regulação do mercado, com as privatizações, com as novas Vales e/ou Telecomunicações sendo leiloadas a preço de banana, prefiro, democraticamente, optar politicamente pelo Estado de Bem-Estar Social de Lula e Dilma.

Terceiro, os índices são evidentes. O povo brasileiro jamais teve tanta esperança na mudança, na transformação real (Marx) e não mais ideal (Hegel). Podemos discordar nas questões pontuais com algumas atitudes do governo Lula, como, por exemplo: nas barragens de Xingu e na transposição do Rio São Francisco ou, então, no porque da não retomada da Vale do Rio Doce ao povo brasileiro. Mas, não podemos negar, milhões de brasileiros saíram dos porões da vida, da miséria. Hoje, possuem sonhos e esperanças. Há mais redistribuição de renda, ainda não é a que queremos, mas devemos aprender a respeitar a paciência histórica... e ela já chegou.

Quarto, o governo Lula representou um retorno da luta de classes. Haja vista as batalhas que travamos com os conservadores políticos do DEM, velhos representantes dos interesses agrários, hoje associados ao agronegócio e ao hidronegócio. Se o governo lhe dá algo com uma mão, lhes retira algo com duas ou três mãos, mas é preciso avançar neste bom combate. Trata-se de uma estratégia política, de que Estado queremos!

Ontem, no Programa Roda Viva, novamente vi e escutei o sociólogo Demétrio Magnoli que mais uma vez mostrou ocultamente suas posições contrárias ao atual governo. Mostrou seu rancor para com os movimentos negros e porque não estender a todos os movimentos sociais populares. Evidentemente que o respeito, (mas discordo radicalmente de suas posições unilaterais e ideológicas) enquanto intelectual orgânico das elites e da classe dominante, politicamente fracassada, com o candidato Serra, sem programa, sem conteúdo, sem nada. Ontem, acreditei que o século XXI nos reservará uma mudança histórica de luta contra as elites, os enganadores do povo, os representantes de uma elite... é o momento de enfraquecer ainda mais essa classe dominante.

Por fim, concordo com Leonardo Boff que afirmou em seu mais recente artigo e conclamo: é hora de consolidar a ruptura histórica operada pelo PT. Houve uma mudança e ela precisa dar continuidade. Por isso, Dilma representa essa continuidade que não se trata de continuísmo. O continuísmo tende a conservar os interesses de alguns, de uma pequena parcela da elite. A continuidade é um desejo popular, do povo, em querer caminhar rumo as transformações estruturais da sociedade brasileira. O Brasil quer seguir em frente na consolidação de uma ruptura histórica. São milhões de Lulas e de Dilmas, de homens e mulheres, acreditando sempre...

Claudemiro Godoy do Nascimento
Filósofo e Teólogo. Mestre em Educação/Unicamp. Doutor em Educação/UnB. Professor da Universidade Federal do Tocantins – UFT/Campus de Arraias e do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional. E-mail: claugnas@uft.edu.br

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