quarta-feira, 3 de março de 2010

Deus e o Dinheiro


Antonio Galvão

A Campanha da Fraternidade nem tinha sido bem lançada e a mídia nacional, nas edições da Quarta-feira de Cinzas já havia publicado vários textos que revelavam uma posição defensiva, quando não antagônica, com o fito de tachá-la de polêmica e até anacrônica, visando desmerecer a reflexão proposta pela Igreja do Brasil, a partir da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A mídia do Brasil, capitalista ou a serviço de grupos econômicos não admite qualquer reflexão que contrarie seus ideários. Uma chamada de consciência como a da CF 2010 converte-se num insulto, quando não uma ameaça.

Nesse esforço se viu muita gente criticando o lema “Ninguém pode servir a dois senhores: a Deus ou ao dinheiro” como egresso de ideologias socialistas, resumo de conclaves, como o “fórum social mundial” ou fruto de outros movimentos, cujas palavras-de-ordem atacam os ricos e o capital. Há nessas críticas uma deliberada intenção de ataque (à Igreja) e defesa (do capitalismo), uma vez que sempre que se combate a ganância, a exploração e a exclusão que brotam do mau uso do dinheiro, a oposição, o boicote e a censura evidenciam que se tocou na ferida de adversários poderosos.

Na verdade, o “Ninguém pode servir a dois senhores: a Deus ou ao dinheiro” não brota de nenhuma cartilha de inspiração marxista, mas do Evangelho de Mateus (6,24) e de Lucas (16,13). Os textos originais alertavam para a impossibilidade de servir a Mámon, que no simbolismo palestino apontava para uma divindade cananéia, que se alimentava de dinheiro, indo inclusive ao sacrifício de pessoas humanas para esse fim. Ao proibir os cultos a Mámon ao invés de a Deus, os antigos repudiavam aquilo que chamavam de idolatria. Hoje, em alguns casos, a idolatria do mercado, o mercantilismo e algumas formas de globalização, por serem excludentes e sectárias, trazem consigo muitas características daquela pantagruélica entidade.

A “chave de leitura” do texto básico da campanha está no ato entender o sentido do verbo servir. Nós servimos a Deus porque é o Senhor e usamos o dinheiro (porque ele é coisa) para nosso bem-estar. As distorções econômicas, sociais e éticas ocorrem a partir do momento em que desprezamos a Deus e nos tornamos ou escravos do dinheiro. Não é crime nem pecado ter dinheiro, como resultado do trabalho e de alguma atividade ética. O ilícito está em acumular a partir da exploração dos outros, da montagem de esquemas espúrios e da entronização do dinheiro em detrimento do crescimento das pessoas. O dinheiro é coisa boa e útil desde que não seja transformado em divindade que exija culto e subserviência.

O autor é Doutor em Teologia Moral

Um comentário:

Usuário Indisponível disse...

Pois é, hoje descobri que a vida de um tio meu não vale nada pra família. Valeria se meus pais estivessem com uma boa condição financeira, mas, como não estão... e quem tem condições não vê necessidade de gastar... é triste! tornam-se realmente escravos do dinheiro. Meus pais venderam um terreno (td q tinham de patrimônio e toda a renda da nossa família) pra garantir que um tio continuasse vivo (não sabíamos se com ou sem perna, por Deus, salvou a perna e a vida). Hoje, como não temos como pagar nada, o parente que tem inúmeros terrenos, casas alugadas e diversos bens, não quis bancar uma consulta particular e uma tomografia, pra saber se o irmão não sofreu uma isquemia, já que "do nada" não reconhece mais ngm....

É mto, mto mto mto triste, ver alguém que amava a Deus, servindo ao dinheiro a tal ponto.