quinta-feira, 23 de abril de 2009

A Mídia e o Poder do Atraso



As críticas do Poder do Atraso representado pelo Editorial do Jornal O Estado de São Paulo comprovam que ainda precisamos avançar e muito na construção de um país mais democrático e justo. É, no mínimo, uma falta de coerência jornalística lançar um editorial com observações nazi-fascistas que comprovam o ódio das elites para com a construção de uma nova ordem mundial pautada num mundo e numa sociedade para todos e todas e não mais para alguns poucos privilegiados.

No dia 21 de novembro de 2006 o Editorial do Jornal O Estado de São Paulo tinha como tema central: Mutirão pelo retrocesso. Na verdade, uma crítica elitista ao Mutirão por um Novo Brasil organizado pela CNBB e movimentos sociais durante a 4ª Semana Social Brasileira. Num primeiro momento, o Editorial tenta, num nível de senso comum exagerado, explicar uma definição acerca do Mutirão. O que vem a ser Mutirão? Segundo o Editorial, "a prática do mutirão se originou do esforço coletivo para auxiliar um dos membros da comunidade envolvida - mais comum nas comunidades rurais -, mas chegou ao espaço público como evento de trabalho concentrado, liderado ou incentivado pela Administração, para a solução de problemas acumulados. Antes, por exemplo, era a festa para a construção, num domingo, de um celeiro; depois passou a ser o esforço concentrado de combate a epidemias, de aceleração de processos judiciais, de construção de casas populares e solução "por atacado" de inúmeras lacunas sociais". E afirma que se assim fosse o Mutirão por um Novo Brasil poder-se-ia até ser compreensivo. E chama a CNBB de órgão famigerado. Logo a CNBB! Pois, segundo o Editorial este Mutirão não seria por um novo Brasil, mas pelo retrocesso do país.

O Editorial ainda considera um retrocesso o Mutirão retomar algumas bandeiras de luta para o povo brasileiro, chamando tais bandeiras de arcaicas, pois se trata de desenterrar o defunto de uma possível sociedade socialista. Chama o Mutirão e a 4ª Semana Social brasileira de "conclave" da Igreja Progressista que se assemelha aos discursos ultrapassados do PSTU. Mas entendamos, o que seria o retrocesso para essa Mídia jornalística compactuada com a elite? Para este Jornal, é retrocesso o Mutirão tentar rever a privatização da Vale do Rio Doce, realizar auditoria da dívida externa e incentivar a comunicação alternativa. Para o Editorial, a Igreja Católica sobre a influência dos movimentos populares como se acaso fosse crime os movimentos populares participarem da Igreja, uma verdadeira contradição histórica.
Por fim, o Editorial bizarro justifica o porquê se deve dar descrédito a CNBB e partem para a ignorância absurda ao afirmar que o motivo do crescimento dos movimentos pentecostais se encontra nessa "famigerada" atuação da CNBB. O ano passado algumas correntes tentaram criminalizar os movimentos sociais, agora tentam criminalizar a CNBB por estar, em comunhão com os movimentos populares, buscando soluções e alternativas para um novo Brasil, um Brasil realmente possível, com mais justiça social e mais redistribuição de renda. Como não poderia deixar de acontecer, criticam o MST e a Via Campesina por buscarem um maior espaço de participação nos Conselhos Gestores do Governo Lula.
A 4ª Semana Social Brasileira, a exemplo de outros fóruns populares de debate e experiências, quer ser um instrumento de coalizão das forças sociais que lutam por uma outra sociedade, pós-neoliberal, socialmente democrática e politicamente participativa. Daí quando o povo participa é taxado de atrasado, de fazer retrocesso.
Agora, pergunto: Quem de fato quer o retrocesso, o atraso? Na carta final da 4ª Semana Social Brasileira busca-se apostar no fortalecimento da Assembléia Popular como instrumento que dinamiza as forças sociais no plano internacional, nacional, regional e local. E, também, fala-se no fortalecimento das redes sociais que surgem a cada dia, no fortalecimento dos Fóruns como espaços de construção da cidadania e de uma democracia participativa e no fortalecimento da comunicação alternativa e dos novos atores sociais que entram em cena nesta sociedade ainda desigual.
Será que o combate a exclusão social e a toda e qualquer forma de injustiça social virou sinônimo de retrocesso? Será que combater as injustiças e com isso promover a construção democrática de uma sociedade mais democrática significa promover o atraso na sociedade brasileira? É claro que não.
O Editorial do Jornal O Estado de São Paulo se utiliza de um chavão para esconder os interesses escusos que estão por detrás de seus pensamentos. Falar que a CNBB e os movimentos populares promovem o retrocesso deve ser usado para encobrir o retrocesso das elites que não possui nenhum desejo de mudança e querem dar continuidade aos 500 anos de despotismo político, cultural e econômico na sociedade brasileira. Este editorial se parece com os velhos discursos ditatoriais neofascistas promovidos pelas ditaduras militares na América Latina nos anos 70 e 80.
Por que tanto medo do Mutirão por um Novo Brasil? Por que difamar a CNBB neste processo de construção da democracia? Por que criminalizar os movimentos populares que lutam por melhores condições de vida para a sociedade brasileira? O que pretendem com o lançamento deste Editorial? Tumultuar, desarticular os movimentos, impor suas verdades como absolutas, dar continuidade ao processo de desmoralização dos movimentos sociais e da Igreja Católica? O que pretendem as elites ao culpar a Igreja por perder adeptos para os movimentos pentecostais? Não seria a própria Teologia da Prosperidade a base de enriquecimento de determinados grupos sociais que financiam reportagens como essa? É no mínimo confuso tudo isso. Uma falta de clareza, de senso crítico, de senso científico e senso humanitário para com as pessoas que participam das lutas sociais.
Na verdade, não se pode esmorecer com tais comentários do atraso. É a Mídia que se encontra a serviço do Poder do Atraso. A Igreja e os Movimentos Sociais se encontram na contramão da história dominante. Portanto, como promover o retrocesso sendo que o retrocesso é promovido pelos grupos que financiam reportagens como essa. Confuso. Contraditório. É chegada a hora dos movimentos sociais e da Igreja reafirmarem suas ações em prol do Mutirão por um novo Brasil. Trabalhar ainda mais na promoção de espaços e encontros populares como a Assembléia Popular que resgata todo o dinamismo do verdadeiro sentido da democracia participativa.
No Calendário das Ações Coletivas do Mutirão por um Novo Brasil, a participação nos eventos é importante para que possamos construir esta sociedade que queremos. Assim, a luta em defesa do Rio São Francisco e contra a transposição, a luta contra a ALCA, a luta pela anulação da venda da Vale do Rio Doce, Marchas pela valorização do Salário Mínimo, a Campanha da Fraternidade com o eixo temático voltado para a Amazônia, as lutas pelas reformas (sindical, política, trabalhista e previdenciária), a luta pela auditoria sobre a dívida externa, o fortalecimento do Grito dos Excluídos, a luta pela terra e por uma reforma agrária sustentável e a realização da II Assembléia Nacional por um Novo Brasil no ano de 2007. Todas essas lutas são realmente democráticas e participativas. Com certeza poderão contribuir para a construção de novas plataformas para o Governo Lula.
O que mais nos deixa numa posição de tristeza é o fato de saber que a Mídia ainda se submeta ao Poder das elites, poder do verdadeiro atraso e retrocesso. A história não deixará de nos contar a verdade dos fatos e dos porquês. Resta a todos e todas que acreditam na força popular continuar apoiando as ações coletivas da 4ª Semana Social Brasileira, dos movimentos populares e da Igreja que buscam a dignidade para todos e todas, até mesmo, para os defensores da elite.
Claudemiro Godoy do Nascimento

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