O Natal é uma festa. Disso todos/as estão em comum acordo, há uma espécie de consenso. Trata-se de uma festa da humanidade. Todos comemoram o “espírito” de paz, fraternidade e de amizade. Há confraternizações em todas as partes do mundo. Mas o que podemos esperar desse “espírito” que acontece todos os anos em nossas vidas? Refletir sobre o Natal não é fácil, pois somos interpelados a cair na mesmice, na falácia ou na repetição seja ela crítica ou acrítica.
Contudo, estamos às portas de um novo Natal que se abre para vivenciarmos a passagem de um novo ano. Mas o que podemos celebrar neste Natal? Festas, presentes, risos e choros, alegrias e tristezas, a esperança e também a desesperança? O que mais me intriga é o real sentido do Natal. Há algum tempo venho me propondo a refletir sobre esta festividade culturalmente cristã e economicamente pagã em nossos tempos de idolatria ao mercado, ao consumo, ao individualismo.
Em 2005, refletirmos sobre “O Natal de Jesus da Silva” que ainda se encontra nos porões da vida buscando a sua ceia com ou sem “peru” nos lixos das grandes e pequenas cidades, restos das sobras de nossas “gulas” e de nossos banquetes que sintonizam o real compromisso que não temos com o projeto de uma sociedade mais justa, solidária e sem opressão. O Jesus da Silva continua a nos desafiar e para os que acreditam que ele não existe é só olharmos ao nosso redor que o veremos, mesmo que ele, nestes últimos tempos esteja sendo socorrido/a pelo assistencialismo “Bolsa-Família” que acomoda e “despolitiza” as pessoas a lutarem pela dignidade.
Em 2007, refletimos sobre “E... Mais um Natal se aproxima” onde buscamos possibilitar uma crítica ao sentido do Natal capitalista e à própria cultura do capital que se instalou em nossas “consciências coisificadas” como já afirmavam os filósofos da Escola de Frankfurt, Adorno e Horkheimer. Estamos “coisificados” o que significa uma adaptação ao consumo sem limites. Recentemente o próprio Presidente da República diante da ameaça da crise econômica nos pede para consumir, comprar, valorar os produtos. Nem precisava, pois o próprio espírito natalino já é um forte indicativo para que possamos estar adaptados à compra.
O Papai Noel conhecido entre todos/as, principalmente, com as crianças representa este “espírito” natalino do consumo. Evidentemente que vemos na mídia vários atores/as, pessoas conhecidas, vestidas de Noel para entregar um presentinho para os que se encontram nos porões da vida e sem poder de compra. Logo, excluídos do mercado. Vejo isso como uma forma de compensação, de minimizar a consciência se é que existe alguma. O Noel realmente se encontra na hegemonia de um projeto de sociedade. Este projeto de sociedade alicerçado na lógica do capital percebe no Noel a possibilidade de conquistas de mais e mais consumidores, fiéis adoradores do deus-mercado.
Já o projeto oposto, aquele que culturalmente temos em nossas “consciências coisificadas” como sendo a memória do menino-Deus, Jesus de Nazaré, não possui hegemonia alguma em nossos tempos de sociedade globalizada. Aliás, o projeto de sociedade apresentado por Jesus se encontra na subalternidade, considerado perigoso e subversivo aos olhos do deus-mercado. Diria que nem contra-hegemônico está sendo o projeto de Jesus. O que existe são sementes não hegemônicas que se estabelecem a partir de alguns setores da sociedade mundial não adaptada e não coisificada pela bíblia do deus-mercado.
E, com isso, o verdadeiro sentido do Natal cai no esquecimento. Há uma dialética do esquecimento em relação ao propósito do Natal. Esquecemos daquele menino que veio ao mundo para iniciar uma nova história, uma história nova, que parte do princípio da libertação aos pobres. A “manjedoura” é um símbolo emancipatório que nos indica o caminho que o projeto de Jesus aponta a toda humanidade. Não se trata de religião, de missas ou cultos, mas de libertação das pessoas. Para sua época, Jesus fora considerado um perigo, um subversivo que vinha ao mundo para apresentar um novo projeto de sociedade. Hoje, igualmente, o verdadeiro menino-Deus é um perigo ao deus “mercado” que quer ampliar seu Império e tornar os fiéis súditos em fiéis consumidores.
O medo dos empresários do capital, homens de negócio, é que o real propósito do menino-Deus venha novamente estabelecer-se como paradigma de uma nova sociedade que apresenta às sociedades humanas o verdadeiro sentido da vida, o amor, a partilha, a comunhão. Por isso, a exemplo de Herodes, os empresários do capital são convocados a ação, destruir o menino-Deus, destruir o sentido do Natal e pôr fim ao anúncio do Evangelho de João: “E a palavra se fez homem e habitou entre nós” (Jo 1, 14). O receio da ordem estabelecida é o ato de habitar entre nós. E nem sabem eles, sacerdotes do deus-mercado, que este menino-Deus continua a habitar entre nós e o principal, continua a tornar esta palavra em semente da libertação.
Não temos dúvida de que a palavra se faz índio na Raposa Terra do Sol e que ali o real sentido do Natal será vivido, assim como em todas as “malocas” de várias comunidades indígenas.
Não temos dúvida de que a palavra se faz quilombola nas várias comunidades remanescentes de quilombos que irão celebrar a vida e não o consumo.
Não há como duvidar de que a palavra se faz mulher nas conquistas e nos sonhos de milhares de mulheres que alcançam a dignidade humana.
Não temos como impedir a dúvida de que a palavra se faz movimentos sociais que continuam a lutar pelo projeto de libertação, o mesmo sonho de Jesus, para que tenhamos uma sociedade humana, justa e sem porões da morte.
Por fim, não há como duvidar de que a palavra se faz Reino de Deus na esperança do vir-a-ser de encontros que teremos em 2009 como o Fórum Social Mundial e o Fórum Mundial de Teologia e Libertação a se realizar numa cidade com o mesmo nome da cidade da “manjedoura”, Belém do Pará que irá assumir o projeto de Belém da Judéia em suas causas e bandeiras e ali poderá almejar o canto de Maria como símbolo da presença subversiva de Deus entre nós: “(...) derruba os poderosos de seus tronos e eleva os humildes; aos famintos enche de bens e despede o rico de mãos vazias” (Lc 1, 52-53). Os poderosos já não são mais reis e governantes somente, mas, em especial, os homens-deuses do mercado global que conseguem em minutos destruir nações e a vida de milhares; especuladores do mal que usurpam a miséria de muitos em benefício de seus interesses acumulativos de capital.
Penso que podemos ainda enquanto humanidade acreditar que a “manjedoura” será mais forte do que os “shoppings centers”. Podemos acreditar que Noel será minimizado para que o Menino-Deus resplandeça. Aqui, não se trata de discurso religioso, muito pelo contrário, as próprias religiões e, principalmente, o cristianismo se rende às benevolências do deus-mercado. Trata-se de uma reflexão que acredita no sonho de Jesus, em seu projeto comunista de sociedade, que está e estará sendo vivido pelos pobres que nada têm ou possuem. Por isso, acreditamos que a páscoa de Noel à Jesus é possível... E um dia acontecerá.
Contudo, estamos às portas de um novo Natal que se abre para vivenciarmos a passagem de um novo ano. Mas o que podemos celebrar neste Natal? Festas, presentes, risos e choros, alegrias e tristezas, a esperança e também a desesperança? O que mais me intriga é o real sentido do Natal. Há algum tempo venho me propondo a refletir sobre esta festividade culturalmente cristã e economicamente pagã em nossos tempos de idolatria ao mercado, ao consumo, ao individualismo.
Em 2005, refletirmos sobre “O Natal de Jesus da Silva” que ainda se encontra nos porões da vida buscando a sua ceia com ou sem “peru” nos lixos das grandes e pequenas cidades, restos das sobras de nossas “gulas” e de nossos banquetes que sintonizam o real compromisso que não temos com o projeto de uma sociedade mais justa, solidária e sem opressão. O Jesus da Silva continua a nos desafiar e para os que acreditam que ele não existe é só olharmos ao nosso redor que o veremos, mesmo que ele, nestes últimos tempos esteja sendo socorrido/a pelo assistencialismo “Bolsa-Família” que acomoda e “despolitiza” as pessoas a lutarem pela dignidade.
Em 2007, refletimos sobre “E... Mais um Natal se aproxima” onde buscamos possibilitar uma crítica ao sentido do Natal capitalista e à própria cultura do capital que se instalou em nossas “consciências coisificadas” como já afirmavam os filósofos da Escola de Frankfurt, Adorno e Horkheimer. Estamos “coisificados” o que significa uma adaptação ao consumo sem limites. Recentemente o próprio Presidente da República diante da ameaça da crise econômica nos pede para consumir, comprar, valorar os produtos. Nem precisava, pois o próprio espírito natalino já é um forte indicativo para que possamos estar adaptados à compra.
O Papai Noel conhecido entre todos/as, principalmente, com as crianças representa este “espírito” natalino do consumo. Evidentemente que vemos na mídia vários atores/as, pessoas conhecidas, vestidas de Noel para entregar um presentinho para os que se encontram nos porões da vida e sem poder de compra. Logo, excluídos do mercado. Vejo isso como uma forma de compensação, de minimizar a consciência se é que existe alguma. O Noel realmente se encontra na hegemonia de um projeto de sociedade. Este projeto de sociedade alicerçado na lógica do capital percebe no Noel a possibilidade de conquistas de mais e mais consumidores, fiéis adoradores do deus-mercado.
Já o projeto oposto, aquele que culturalmente temos em nossas “consciências coisificadas” como sendo a memória do menino-Deus, Jesus de Nazaré, não possui hegemonia alguma em nossos tempos de sociedade globalizada. Aliás, o projeto de sociedade apresentado por Jesus se encontra na subalternidade, considerado perigoso e subversivo aos olhos do deus-mercado. Diria que nem contra-hegemônico está sendo o projeto de Jesus. O que existe são sementes não hegemônicas que se estabelecem a partir de alguns setores da sociedade mundial não adaptada e não coisificada pela bíblia do deus-mercado.
E, com isso, o verdadeiro sentido do Natal cai no esquecimento. Há uma dialética do esquecimento em relação ao propósito do Natal. Esquecemos daquele menino que veio ao mundo para iniciar uma nova história, uma história nova, que parte do princípio da libertação aos pobres. A “manjedoura” é um símbolo emancipatório que nos indica o caminho que o projeto de Jesus aponta a toda humanidade. Não se trata de religião, de missas ou cultos, mas de libertação das pessoas. Para sua época, Jesus fora considerado um perigo, um subversivo que vinha ao mundo para apresentar um novo projeto de sociedade. Hoje, igualmente, o verdadeiro menino-Deus é um perigo ao deus “mercado” que quer ampliar seu Império e tornar os fiéis súditos em fiéis consumidores.
O medo dos empresários do capital, homens de negócio, é que o real propósito do menino-Deus venha novamente estabelecer-se como paradigma de uma nova sociedade que apresenta às sociedades humanas o verdadeiro sentido da vida, o amor, a partilha, a comunhão. Por isso, a exemplo de Herodes, os empresários do capital são convocados a ação, destruir o menino-Deus, destruir o sentido do Natal e pôr fim ao anúncio do Evangelho de João: “E a palavra se fez homem e habitou entre nós” (Jo 1, 14). O receio da ordem estabelecida é o ato de habitar entre nós. E nem sabem eles, sacerdotes do deus-mercado, que este menino-Deus continua a habitar entre nós e o principal, continua a tornar esta palavra em semente da libertação.
Não temos dúvida de que a palavra se faz índio na Raposa Terra do Sol e que ali o real sentido do Natal será vivido, assim como em todas as “malocas” de várias comunidades indígenas.
Não temos dúvida de que a palavra se faz quilombola nas várias comunidades remanescentes de quilombos que irão celebrar a vida e não o consumo.
Não há como duvidar de que a palavra se faz mulher nas conquistas e nos sonhos de milhares de mulheres que alcançam a dignidade humana.
Não temos como impedir a dúvida de que a palavra se faz movimentos sociais que continuam a lutar pelo projeto de libertação, o mesmo sonho de Jesus, para que tenhamos uma sociedade humana, justa e sem porões da morte.
Por fim, não há como duvidar de que a palavra se faz Reino de Deus na esperança do vir-a-ser de encontros que teremos em 2009 como o Fórum Social Mundial e o Fórum Mundial de Teologia e Libertação a se realizar numa cidade com o mesmo nome da cidade da “manjedoura”, Belém do Pará que irá assumir o projeto de Belém da Judéia em suas causas e bandeiras e ali poderá almejar o canto de Maria como símbolo da presença subversiva de Deus entre nós: “(...) derruba os poderosos de seus tronos e eleva os humildes; aos famintos enche de bens e despede o rico de mãos vazias” (Lc 1, 52-53). Os poderosos já não são mais reis e governantes somente, mas, em especial, os homens-deuses do mercado global que conseguem em minutos destruir nações e a vida de milhares; especuladores do mal que usurpam a miséria de muitos em benefício de seus interesses acumulativos de capital.
Penso que podemos ainda enquanto humanidade acreditar que a “manjedoura” será mais forte do que os “shoppings centers”. Podemos acreditar que Noel será minimizado para que o Menino-Deus resplandeça. Aqui, não se trata de discurso religioso, muito pelo contrário, as próprias religiões e, principalmente, o cristianismo se rende às benevolências do deus-mercado. Trata-se de uma reflexão que acredita no sonho de Jesus, em seu projeto comunista de sociedade, que está e estará sendo vivido pelos pobres que nada têm ou possuem. Por isso, acreditamos que a páscoa de Noel à Jesus é possível... E um dia acontecerá.
Um comentário:
Trata-se de uma evidencia real.
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