terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Convite, Caminho e Inclusão!



Texto publicado pela Agência de Notícias Adital em 2006.

Neste ano, a Campanha da Fraternidade nos provoca uma reflexão inclusiva. Seguindo o chamado de Jesus que nos convida "Levanta-te, vem para o meio" (Mc 3, 3) acaba nos mostrando um projeto de amor e acolhimento para com os excluídos e excluídas dessa sociedade de consumo na qual vivemos. Neste sentido, a Igreja do Brasil, por meio da CNBB, nos convoca a refletirmos na CF 2006 acerca da Fraternidade e Pessoas com Deficiência.

O acolhimento e a valorização desses irmãos e irmãs na comunidade eclesial e na sociedade como um todo é o objetivo central da CF. É um momento propício para que possamos tomar consciência das diversas realidades de exclusão e das alternativas inclusivas que são fomentadas a partir das pessoas com deficiências. O certo e verdadeiro é que Deus se encontra nas alegrias e esperanças, nas tristezas e angústias desses irmãos e irmãs, que são chamados e chamadas a serem protagonistas da história. A CF também é um convite para que todo cristão e cristã deixe sua postura de espectador e passe a assumir uma atitude de acolhimento com estas pessoas que devem ser respeitadas em sua dignidade humana. É um convite para construirmos uma cultura da solidariedade frente ao avanço de culturas de morte e desrespeito que são implantadas em nossa sociedade.

Numa sociedade desumana baseada na lógica do capital as pessoas com deficiências são mais um grupo humano excluído e discriminado, vítimas de uma cultura do preconceito e da competição. Muitos sociólogos já afirmam há mais de uma década, só sobrevive nesta sociedade neoliberal os que estão aptos a competir entre si. Estes outros são seres descartáveis, conforme já anunciava a CF de 1995 sobre exclusão. Mas, neste caso específico, quem são os atores e atoras do processo? Segundo o Texto-Base da CF são todos e todas com algum tipo de deficiência natural ou não, ou seja, cegos, surdos, os que estão com lesão física ou cerebral ou mental. Numa perspectiva do seguimento a Jesus, somos chamados e chamadas a incluir, a romper com a lógica de excluir e de descartar seres humanos. "Levante-te, vem para o meio" é o sinal claro da proposta de acolhimento realizada por Jesus. O meio é o local da participação, da roda, da comunidade. O meio é o espaço onde existe a dignidade humana e onde os direitos são respeitados e se valoriza a pessoa humana por mais deficiente que seja.

As comunidades cristãs terão o período da Quaresma, tempo de penitência e de escuta, para refletir acerca da temática da CF que não deve se esgotar na Páscoa, mas se prolongar por todo este ano. Tal reflexão não pode se restringir as dioceses e paróquias, mas a toda sociedade. Por isso, o objetivo central da CF 2006 é o de "conhecer melhor a realidade das pessoas com deficiência e refletir sobre sua situação, à luz da Palavra de Deus e da ética cristã, para suscitar maior fraternidade e solidariedade em relação às pessoas com deficiência, promovendo sua dignidade e seus direitos" (CF 2006: 10).

Uma constatação é que as pessoas com deficiência incomodam aqueles e aquelas que sentem repulsa e outra compaixão paternalista. A pessoa com deficiência tira o não deficiente de sua comodidade e de sua tranqüilidade. A CF quer mostrar que é preciso acolher e não gerar um sentimento de repulsa e rejeição para com estes que se encontram com uma debilidade física ou motora, sensorial ou mental, mas gerar um sentimento de compaixão. Compadecer-se não significa ter pena, ter um sentimento de "dó", pelo contrário, compadecer-se pelo outro em suas virtudes e denunciar assim a formação de uma cultura do eugenismo.

Muitas famílias acabam dando um significado de peso, de cruz que se carrega diante de uma pessoa que se encontra numa situação de deficiência. Outros associam o cuidado para com eles como se fosse um castigo ou uma missão dada por Deus. Uma constatação é que as pessoas com deficiências, por meio da via dolorosa assumida, nos ensinam reconhecer e aceitar o próximo em suas diferenças e peculiaridades.

A deficiência, qualquer que seja, não significa uma associação de incapacidade. Pelo contrário, todos somos capazes, mesmo que tenhamos jeito e formas diferenciadas de ser e agir na sociedade. Diante de um mundo baseado na lógica perversa do ter, ser diferente com uma deficiência, significa estar sempre em luta pela inclusão e por um mundo possível para todos e todas, dizendo um "basta" aos contravalores assumido por essa sociedade de consumo e individualista.

Para entendermos a dinâmica da CF é necessário retomar a prática de uma pastoral encarnada e inserida na realidade do povo. Muitos e muitas, pessoas com deficiência, estão à margem da sociedade e da própria comunidade cristã. A visita, o ver, o escutar, o sentir a realidade desses nossos irmãos e irmãs torna-se ponto crucial na dinâmica apontada pela CF. Com isso, deixaremos de lado o imobilismo e o fatalismo, passando assim, a conhecer e reconhecer nestes irmãos sinais claros da presença de Deus que é sempre Amor. Também, suscitar-se-á mais solidariedade e fraternidade entre a comunidade que deve assumir a inclusão como objetivo pastoral e ajudando a identificar nossas próprias deficiências que passam desapercebidas e que não notamos, pois temos olhos e ouvidos somente quando se trata do outro.

A CF quer nos proporcionar um momento de escuta de Deus na vida do povo, em especial, na vida de nossos irmãos e irmãs com deficiência. Significa que somos chamados a ver a pessoa humana com deficiência enquanto ser humano e não como objeto descartável, inválido, imprestável etc. Devemos ver a pessoa na deficiência e não como deficiente incapaz. Este novo olhar nos dá a condição de rompermos com determinados termos incorporados pela cultura que nos apresenta um conceito sobre e, por detrás, um preconceito que nega a humanidade desses irmãos e irmãs.

Outro fator importante dessa CF é a valorização integral desses seres humanos com deficiência. Para que haja maior valorização torna-se necessário e urgente a clara efetivação de políticas públicas de inclusão social. Por isso, no decorrer desta CF, estaremos refletindo com mais afinco acerca dessas questões emergentes que a Igreja do Brasil, por meio da CNBB, que nos faz refletir sempre com o desejo pedagógico de estarmos nos comovendo, conhecendo e lutando para a construção de uma sociedade justa e solidária para todos e todas, neste ano em especial, as pessoas com deficiência. Por isso, a Igreja nos faz um convite para refletirmos essa temática, alicerçada pelo caminho do Evangelho de Marcos para que nossas comunidades possam estar fomentando a inclusão daqueles e daquelas que se encontram a margem.

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