João Pedro Stédile[1]
Passaram-se alguns meses do desencadear da crise do capitalismo a nível internacional, tendo seu epicentro no capital financeiro e na economia dos Estados Unidos. Agora já temos mais elementos para compreender de que ela será prolongada, profunda e atingirá a todas economias periféricas. Inclusive o Brasil.
Muitas análises já se publicaram na academia e nos meios de comunicação. Há posições de todas as matizes e correntes ideológicas. E todas convergem no diagnóstico. É uma crise profunda, pior do que a crise de 29. Atingirá a toda economia mundial, cada vez mais internacionalizada e controlada por menos de 500 empresas. Será pior, por que combina uma crise econômica, financeira (de credibilidade das moedas), ambiental, ideológica, pela falência do neoliberalismo, e política, pela falta de alternativas apresentadas pela classe dominante, no centro ou pelos governos da periferia.
Na história das crises do capitalismo, as classes dominantes, proprietárias do capital, e seus governos, adotaram um mesmo receituário para sair delas.
Primeiro, precisam destruir parte do capital (super-acumulado e sem demanda) para abrir espaço a outro processo de acumulação. Nos últimos meses já foram torrados mais de 4 trilhões de dólares, em papel moeda.
Segundo, apelam para as guerras. Como forma de destruir mercadorias (armas, munições, bens materiais, instalações) e como forma de eliminar a tensão social dos trabalhadores. E, de certa forma eliminam também o exercito industrial de reserva. Foi assim, na primeira e a segunda guerra mundial. E depois na guerra fria. Agora, com medo da bomba atômica, estimulam conflitos regionais. Os ataques de Israel ao povo palestino, as provocações na Índia, as ameaças ao Iran, estão dentro dessa estratégia, também. Aumentar os gastos militares e a destruição de bens.
Terceiro. Aumentar a exploração dos trabalhadores. Ou seja, nas crises, baixam os salários médios, rebaixam as condições de vida e por tanto de reprodução da força de trabalho, para recuperar as taxas de mais-valia e de acumulação. Daí também, o desemprego ampliado, que mantêm multidões sobrevivendo apenas com cestas básicas, etc..
Quarto: Há uma maior transferência de capital da periferia para o centro do sistema. Isso é feito pela transferência direta das empresas para suas matrizes. Através da manipulação da taxa de cambio do dólar, do pagamento de juros e da manipulação de preços das mercadorias vendidas e compradas na periferia.
Quinto. O capital volta a usar o estado, como o gestor da poupança da população para deslocar esses recursos em beneficio do capital. Por tanto, os capitalistas voltam a valorizar o estado, não como zelador dos interesses da sociedade. Mas como capataz do seus interesses , para usar p poder compulsório e assim recolher o dinheiro de todo mundo, através de impostos e da poupança depositada nos bancos, para financiar a saída da crise.
Estamos assistindo a aplicação dessas medidas clássicas todos os dias, registradas na imprensa. Aqui no Brasil, no centro do capitalismo e em todo mundo.
Mas, como em tudo na vida, sempre há contradições. Para cada ação do capital, do governo, etc. haverá contradição, que a sociedade e os trabalhadores sentem e podem se aproveitar delas, para mudar a situação.
Os períodos históricos de crises são também períodos de mudanças. Para o bem ou para o mal. Mas haverá mudanças! As crises abrem brechas e recolocam o posicionamento das classes na sociedade. No Brasil, ainda estamos apáticos, amorfos, desanimados, assistindo pela televisão a descrição dos sintomas da crise chegando aqui. Quase não houve reação ou comentários aos quase 800 mil trabalhadores que perderam seus empregos somente em dezembro de 2008. Não há comentários para a pesquisa do IPEA que identificou entre as 17 milhões de famílias pobres do Brasil do cadastro geral de benefíciários do governo, 79% deles estão desempregados! E por receberam algum beneficio não procuram mais empregos, e saem até das estatísticas.
É fundamental que os setores organizados da sociedade, em todas as formas existentes, seja nas igrejas, nos sindicatos, nos colégios, escolas, universidades, na imprensa e movimentos sociais, partidos, tomemos uma atitude. E a primeira atitude é debater a natureza e as saídas para a crise, do ponto de vista dos trabalhadores e da maioria. É urgente estimularmos todo tipo de debate, em todos espaços. É louvável a iniciativa da TV educativa Paraná, de estimular esse tipo de debate público. Mas ainda é insuficiente. A crise será longa e profunda. Precisamos envolver o maior numero possível de militantes, homens e mulheres conscientes, para que debatam a situação e possamos construir coletivamente alternativas populares. E sem a mobilização e a luta social, não haverá saída para o povo. Somente para o capital.
Nenhum comentário:
Postar um comentário