quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Massacre de Felisburgo, Movimentos pedem justiça


No dia 20 e novembro de 2004, 16 pistoleiros fortemente armados e encapuzados, incluindo o latifundiário Adriano Chafik Luedy, invadiram o acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), situado na fazenda Nova Alegria, localizada no município de Felisburgo, na região da Comarca do Jequitinhonha (MG), e que já estava ocupada desde 2002 por um total 200 famílias.
Adriano Chafik e seus jagunços assassinaram cinco trabalhadores do movimento Sem Terra. Outros 13 trabalhadores ficaram feridos, 30 barracos foram queimados e uma escola foi destruída. O caso retrata a violência relacionada à questão agrária no Brasil e a grande influência que os donos terras possuem principalmente nos municípios do interior.

Adriano é um réu confesso, mesmo assim o MST e demais movimentos sociais temem pela impunidade do fazendeiro e lutam para o desaforamento do caso, ou seja, para que Adriano seja julgado em Belo Horizonte (MG) local onde ele possui menos influência política. O julgamento ainda não tem data para ocorrer.

Em entrevista à Radioagência NP, o integrante da direção estadual do MST que trabalha na região da Comarca desde 2001, Ênio Bonemberger, fala sobre a situação das famílias, a fazenda Nova Alegria e sobre o julgamento do fazendeiro.

Radioagência NP: Qual a situação da fazenda Nova Alegria hoje?

Ênio Bonemberger: A Justiça determinou a demarcação de 568 hectares da fazenda que são terras devolutas e é essa onde as famílias estão morando hoje e trabalhando, e o restante da área que é em torno de 1700 hectares está em processo de desapropriação por interesse social. E as famílias continuam lutando pela fazenda, os supostos proprietários abandonaram essa fazenda, e hoje então quem controla a produção no local são essas famílias.

Radioagência NP: As famílias da dos Sem Terra continuam sendo ameaçadas?

EB: Continuam porque os irmãos do Adriano têm outra fazenda no município, então cada vez que há um encontro sempre há provocações. Então tudo isso a gente tem registrado em novos boletins de ocorrência. Mas para se ter uma idéia, antes do massacre havia pelo menos sete boletins de ocorrência e que foram encaminhados para o Ministério Público com as ameaças de morte e dentre as autoridades locais, ninguém tomou providência.

Radioagência NP: A que se deve o fato de a justiça saber dessas ameaças e não fazer nada?

EB: Para se ter uma idéia, no município de Felisburgo a polícia militar é composta por três policiais e que são fortemente ligados ao grupo [fazendeiros]. Nessas cidades do interior quem tem mais poder econômico tem o poder político. Então a influência nas autoridades locais é muito grande por parte dos fazendeiros.

Radioagência NP: Fale sobre o desaforamento do processo?

EB: Nós conseguimos uma vitória importante que foi o desaforamento do processo. Então quando acontecer o julgamento desse massacre, este será em Belo Horizonte (MG). Isso é uma vitória porque a influência do fazendeiro sobre um júri da capital seria bem menor. Há uma maior chance de imparcialidade e de punição para o crime. Se o caso fosse julgado na Comarca do Jequitinhonha há uma grande probabilidade de não haver condenação, como já aconteceu em outros casos lá no Jequitinhonha.

Radioagência NP: Mesmo sabendo que Adriano já confessou que participou do massacre, há ainda o temor que de que ele seja inocentado?

EB: Há o temor sim, porque a gente sabe que no Brasil há impunidade, e que os massacres que continuam acontecendo são fruto dessa impunidade. Então nós acreditamos ainda numa condenação, mas sempre há o temor uma absolvição e isso não seria nenhuma novidade se acontecesse no Brasil.

De São Paulo, da Radioagência NP,
Juliano Domingues.

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