Fábio Feldmann
Em cerimônia de posse na última terça-feira, o novo presidente norte-americano Barack Obama mais uma vez emocionou centenas de milhares pessoas, não apenas nos Estados Unidos, mas no mundo todo. Até porque o novo presidente demonstra claramente que tem consciência de que o dever de governar a maior potência mundial carrega responsabilidades que extrapolam qualquer fronteira territorial. Qualquer que seja o redirecionamento da política americana, trará impactos diretos para os mais longínquos povos deste planeta.
Obama seguramente surge como o maior portador de capital que o mundo já viu. O capital da esperança. Esperança em relação à salvação do sistema de saúde americano, à resolução da crise financeira, ao efetivo combate ao aquecimento global, ao fim dos conflitos étnicos e raciais, e à construção da paz entre os homens. Em seu discurso de posse Obama reafirmou a grandeza da nação americana, garantindo que ainda são "a nação mais próspera e poderosa da Terra", e que são capazes de liderar e concretizar essas promessas.
Sem dúvida alguma o mundo precisava dessa injeção de ânimo, de novamente ter a capacidade de enxergar a luz no final do túnel quando tudo parecia (ou parece) caminhar para o colapso. Um líder com a capacidade e história de vida de Barack Obama era necessário, especialmente para escancarar o fato de que os cidadãos do mundo anseiam por mudança. Que do jeito que está, não podemos ficar.
No entanto, devemos a todo momento relembrar que Obama não é o salvador do mundo, nem a resposta para todos os males. Muitos irão dizer que é óbvio que a grande maioria não o vê dessa maneira. Mas na prática o que acontece é que o ser humano invariavelmente coloca nos ombros do outro a solução para problemas que nós mesmos criamos. Os desafios que a humanidade enfrenta não são trabalho para um homem só e dependem do papel que cada um de nós deseja exercer no seu enfrentamento.
Como bem colocado pelo Secretário do Verde e Meio Ambiente da cidade de São Paulo, Eduardo Jorge, um exemplo alarmante disso que estamos falando aqui é o problema do lixo. Devido ao descaso da população, numa atitude de transferir a responsabilidade para o outro, o equivalente a 900 caminhões de lixo são retirados por mês apenas nas rodovias paulistas, aumentando inclusive os riscos de acidentes nas estradas. Um hábito tão corriqueiro do brasileiro de jogar lixo pela janela do carro, livrando-se do "problema", como se ele milagrosamente desaparecesse, revela nossa incompetência em relacionarmos causa e efeito, fazendo com que tomemos decisões que nos prejudicam diretamente: oneramos os cofres públicos e consequentemente pagamos mais impostos, colocamos vidas em risco, e ainda por cima consumimos de forma ignorante recursos naturais tão valiosos.
A titulo de ilustração, recentemente me deparei com o exemplo das fraldas descartáveis. Um estudo realizado para a Agência Ambiental do Reino Unido revelou que o uso de fraldas descartáveis sozinho, considerando que uma criança utiliza fraldas em média por 2 anos e meio, teria um impacto no aquecimento global de aproximadamente 550 quilos de dióxido de carbono equivalente. De forma alguma estou pregando o fim do uso de fraldas descartáveis, mas que o consumo de qualquer coisa que seja tem que ser feito com responsabilidade e com a consciência de que o lixo não desaparece, e muito menos se torna um problema do outro.
Precisamos de Obama sim, mas talvez ele precise muito mais ainda de nós. Sem que haja uma reflexão séria do papel que cada um de nós possui na construção do futuro do planeta, não haverá Obama que nos salve. E seguiremos culpando os outros pelos nossos problemas.
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